Com a promulgação da Emenda Constitucional 132, fruto da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 45/2019, o panorama da reforma tributária brasileira avança para uma fase inédita e crucial. Esta reforma representa uma ruptura significativa no cenário dos impostos do país desde a promulgação da Constituição Federal de 1988, tendo como objetivo primordial simplificar a tributação sobre produtos e serviços, fomentar o crescimento econômico e equilibrar a distribuição da carga tributária.
Um dos pilares fundamentais dessa transformação é a implementação do Imposto Seletivo (IS), concebido para desestimular o consumo de produtos e serviços prejudiciais à saúde e ao meio ambiente. Em consonância com essa iniciativa, outras mudanças estão planejadas para unificar e simplificar a tributação, como a introdução da Contribuição Social sobre Bens e Serviços (CBS), destinada a substituir o PIS e a Cofins, e a consolidação de cinco tributos sobre o consumo em uma única cobrança, dividida entre esfera federal (CBS) e estadual/municipal (IBS - Imposto sobre Bens e Serviços).
O processo de transição para esse novo modelo será gradual, com a cobrança da CBS prevista para iniciar em 2027 e a implementação do IBS estendendo-se até 2033. Para mitigar os impactos nos estados decorrentes da redução de benefícios fiscais, está prevista a criação do Fundo de Compensação de Benefícios Fiscais, com apoio da União até 2032. Além disso, a reforma propõe a distribuição dos valores arrecadados do IBS entre estados, municípios e Distrito Federal, mantendo a receita média de cada ente federativo proporcional.
É imprescindível ressaltar que essa reforma não se limita aos impostos sobre o consumo, abarcando também modificações em regras relacionadas a outros impostos, como o Imposto de Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD), o Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU) e o Imposto sobre a Propriedade de Veículos (IPVA), com o intuito de modernizar e simplificar a cobrança desses tributos para promover maior eficiência e transparência no sistema tributário nacional.
O que é o IS - Imposto Seletivo
O Imposto Seletivo, introduzido pela Emenda Constitucional 132, é uma peça fundamental na reforma tributária do Brasil. Diferentemente de outros impostos mais abrangentes, o Imposto Seletivo é direcionado a produtos e serviços específicos que são considerados prejudiciais à saúde pública ou ao meio ambiente. Itens como cigarros, bebidas alcoólicas, pesticidas e outros produtos similares estão sujeitos a essa tributação seletiva.
O que distingue o Imposto Seletivo de outros impostos é a sua seletividade, ou seja, ele não incide sobre todos os produtos e serviços, mas apenas sobre aqueles identificados como tendo impactos negativos na saúde ou no meio ambiente. Essa abordagem visa desencorajar o consumo desses itens, reduzindo assim os danos associados ao seu uso.
Portanto, o Imposto Seletivo desempenha um papel importante na promoção da saúde pública e na proteção do meio ambiente, ao mesmo tempo em que contribui para a arrecadação de recursos para o Estado. Sua implementação é parte de um esforço mais amplo para modernizar o sistema tributário brasileiro e promover um ambiente mais saudável e sustentável para todos os cidadãos.
Como funcionará o Imposto Seletivo
A implementação do Imposto Seletivo será realizada de forma cuidadosa e gradual, em consonância com as demais medidas previstas na reforma tributária. O cronograma estabelecido indica que a cobrança desse imposto terá início a partir de 2027, o que permite um período de transição para que as empresas e os consumidores se ajustem às novas obrigações fiscais.
Durante esse período de transição, espera-se que tanto as empresas quanto os consumidores se familiarizem com as novas regras e procedimentos relacionados ao Imposto Seletivo. Isso incluirá a compreensão das categorias de produtos e serviços sujeitos a essa tributação específica, bem como a adequação dos sistemas de contabilidade e pagamento de impostos para garantir conformidade com a legislação.
Além disso, é provável que haja um esforço de comunicação e educação por parte das autoridades fiscais para informar adequadamente as empresas e os consumidores sobre as mudanças e os impactos do Imposto Seletivo. Isso pode incluir a realização de campanhas de conscientização e a disponibilização de recursos e orientações para facilitar a transição para o novo regime tributário.
É importante destacar que a implementação gradual do Imposto Seletivo visa minimizar os impactos negativos sobre as empresas e a economia como um todo, ao mesmo tempo em que promove os objetivos de saúde pública e proteção ambiental associados a essa forma de tributação seletiva.
Incidência e alíquotas
O Imposto Seletivo (IS) terá incidência sobre a produção, extração, comercialização ou importação de bens e serviços identificados como prejudiciais à saúde ou ao meio ambiente. Essa tributação específica será aplicada de acordo com a natureza do produto ou serviço em questão. As alíquotas do IS serão estabelecidas por meio de lei ordinária, levando em consideração diversos fatores, incluindo o impacto do produto ou serviço sobre a saúde pública e o meio ambiente.
Exceções e particularidades
A Emenda Constitucional que institui o Imposto Seletivo prevê algumas exceções e particularidades em sua aplicação. Por exemplo, o IS não incidirá sobre as exportações, visando preservar a competitividade das empresas brasileiras no mercado internacional. Além disso, as operações relacionadas à energia elétrica e telecomunicações também estão isentas desse imposto.
Outra particularidade é a possibilidade de concessão de tratamento tributário diferenciado para determinadas regiões, como a Zona Franca de Manaus. Essa medida visa preservar a competitividade econômica e social dessas áreas, reconhecendo suas peculiaridades e promovendo o desenvolvimento regional de forma equilibrada.
Essas exceções e particularidades refletem a preocupação em estabelecer uma tributação justa e equilibrada, considerando não apenas os interesses fiscais, mas também os impactos socioeconômicos e ambientais das políticas tributárias.
Impacto e desafios
Embora o Imposto Seletivo represente uma importante ferramenta para desestimular o consumo de produtos nocivos, sua implementação suscita alguns desafios e questões a serem consideradas. A definição precisa dos produtos sujeitos à tributação, a adequação das alíquotas e a garantia da justiça fiscal são aspectos que demandam atenção e cuidado por parte das autoridades responsáveis.
O Imposto Seletivo, como parte integrante da reforma tributária brasileira, surge como uma medida estratégica para promover um consumo mais consciente e sustentável. Seu impacto sobre a economia e a sociedade dependerá não apenas de sua eficácia na arrecadação fiscal, mas também de sua capacidade de influenciar os padrões de consumo e produção em direção a uma maior responsabilidade socioambiental. A implementação bem-sucedida do IS exigirá diálogo, cooperação e acompanhamento constante por parte de todos os envolvidos no processo tributário.

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